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quinta-feira, 7 de abril de 2011
ENTREVISTA COM CLÁUDIO RODRIGUES Diretor executivo da BV Films
Cláudio Rodrigues
Diretor executivo da BV Films, uma das maiores distribuidoras de filmes evangélicos do País, Cláudio Rodrigues é pioneiro em fazer projeção de filmes cristãos em praças públicas, igrejas e cinemas desativados. Seu envolvimento com trabalhos voltados para a juventude vem desde que era adolescente.
Durante anos, foi líder de mocidade e mantém até hoje forte ligação com os ministérios jovem e de comunicação de sua igreja, a Primeira Igreja Batista de Trindade, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. E esta afinidade o levou a promover projetos voltados para este público, a começar por "Para Salvar Uma Vida", filme que aborda diversas situações vividas no cotidiano dos jovens, como sexualidade, gravidez, aborto, bullying, drogas, alcoolismo e suicídio. Na entrevista a seguir, exclusiva para Comunhão, ele fala sobre a importância da igreja no trabalho de restauração de jovens no BV Cine, o projeto missionário que utiliza o recurso do cinema como ferramenta evangelística no Brasil e na América Latina.
O que é o projeto "Para Salvar uma Vida"?
"Para Salvar uma Vida" fala sobre 19 pontos de conflitos: drogas, bullying, sexo, gravidez, educação e religião, entre outros. É um filme que visa resgatar jovens e adolescentes destes e de diversos outros tipos de conflitos. Pretende mostrar algo novo e fresco para o jovem, ou seja, uma alternativa para ele. Porque o jovem sempre procura na igreja uma religiosidade e o filme trata disso, fala de buscar mais a Deus nestas áreas e mostra que deve existir uma responsabilidade, um compromisso desse jovem não só com a igreja, mas com Deus também. O projeto em si é um despertamento para que o jovem procure ajuda - e eles precisam muito da ajuda dos líderes. O filme, em si, não tem o poder de transformação da pessoa, mas pode sensibilizar e dar oportunidade à igreja de trabalhar essas questões.
Esse objetivo tem sido alcançado?
Sim. Hoje mesmo eu recebi um e-mail de uma menina dizendo que estava prestes a cometer suicídio. Ele havia tentado se matar por três vezes e simplesmente não conseguiu mais realizar o ato depois de assistir "Para salvar uma vida". Então, o filme veio trazer uma reposta para ela. Diariamente, recebo e-mails de muitas pessoas que têm mudado de postura após serem confrontadas com a forte mensagem do filme. Para jovens e adolescentes, ele trata das questões de forma direta; não é e nem tem a possibilidade de ser um entretenimento.
A fé é apresentada como o único caminho para a solução de dilemas e conflitos dos adolescentes e jovens?
Tem uma cena interessante no filme, quando um jovem comenta com um pastor: "eu não sou um religioso" e o pastor responde: "eu também não sou". Não há uma alusão de que a pessoa seja obrigada a se converter e ir a uma igreja no filme e sim é enfatizado a importância de se ter um compromisso com Deus. Esse é o principal foco do filme e ele é bem claro em mostrar que os jovens mudam de geração em geração, de acordo com a época. Ah, mas eu havia dito que o filme não é religioso... a questão é que a igreja é que vai desenvolver a fé desse jovem, com auxílio da literatura que acompanha o projeto. Porque é a igreja que vai trabalhar com ele os seus conflitos. Aí, ele assume primeiro um compromisso com a igreja, e depois com Deus, porque é a igreja que vai ensinar sobre a fé, vai apontar qual é o caminho e vai fazer todo tipo de trabalho espiritual com o jovem, seja trabalho de acompanhamento ou devocional.
Você sempre esteve ligado ao ministério jovem. Em seu trabalho, você tem visto uma boa quantidade de adolescentes lidando com os assuntos abordados no filme?
Sim. Por isso vejo a necessidade de eles terem uma ferramenta para trabalhar determinados assuntos, porque o que vemos na maioria das igrejas é que os trabalhos voltados para o jovem são os cultos com muito louvor, adoração e pregação, mas às vezes isso não basta para ele o que ele está passando. E o filme faz com que ele seja ouvido. Em determinados momentos, o filme traz a seguinte mensagem: "Algumas pessoas querem apenas ser ouvidas". Então, funciona como o divã de um analista. O filme tem inspirado pessoas a mandar e-mails e contarem sobre suas vidas, abrindo-se conosco e testemunhando, e não foi esse o nosso propósito inicial. Então, colocamos no site do projeto um link de ajuda, pensando naquelas pessoas que têm o desejo de se suicidar, ou que estejam passando por algum problema. E percebemos o quanto essas situações são comuns no dia a dia das pessoas. Eu presenciei e trabalhei com muitos jovens com esses tipos de conflitos e há muita depressão. Por incrível que pareça, existem muitos adolescentes com depressão.
Qual a proposta evangelística do projeto ‘Para salvar uma vida"?
Acima de tudo, é resgatar vidas. Saber conhecer, identificar o problema e resgatar os jovens, seja qual for o problema que eles estejam vivendo. E as reações dos jovens têm sido bem claras e contundentes, porque se eu não tiver, de alguma forma, um interesse genuíno pelo problema dele, eu não consigo ter uma relação definida das necessidades deles. E são vários os tipos de reações deles. Alguns ligam alegres e dizem que foram tocados, que é muito bom o filme. Já outros expressam sua revolta porque o filme veio coincidir com o problema deles, algo do tipo: "eu estou passando por esse problema e eu preciso de sua ajuda".
Dos 19 pontos de conflito do filme, por quais os jovens mais se sentem confrontados?
Para minha grande surpresa, foi o suicídio. Quando contextualizamos as pesquisas, descobrimos que há um alto índice de suicídio entre jovens e adolescentes. E os e-mails que recebemos comprovam essa constatação, com depoimentos de quem tinha tentado cortar os pulsos. E a gente tenta entender essa atitude, sabendo que há um lado espiritual. Depois, vem a identificação com as drogas e, em seguida, as questões que envolvem o sexo. Na adolescência, começam a sentir o desejo de estarem um com o outro e não pensam nas conseqüências, que podem vir com uma gravidez ou uma doença. E a situação piora se o jovem não tiver uma família bem estruturada. É o que o filme mostra: quando o personagem recebe a notícia da gravidez da menina, ele não tinha uma família estruturada, seus pais eram separados e não recebeu apoio deles. Ele foi rejeitado pelo pai, que jogou a bola para a mãe, e pôde encontrar um refúgio, na igreja. Nesses três pontos, o conflito foi tratado na igreja, não com religiosidade, mas com diálogo e acompanhamento.
É aí que entra o papel da igreja no projeto BV Cine?
Sim. O papel da igreja, em primeiro lugar, é ter a coragem de modificar seu ambiente de igreja e passar a ser um cinema. Esse é o desafio inicial que a igreja deve superar em função do projeto. E, nessa mudança, vão sentir o resultado, como tantas igrejas vêm fazendo, na transformação dos jovens. Após a exibição do filme, a igreja tem como desafio levar esse projeto para as escolas. Tanto na projeção na igreja como na escola, há uma simples pergunta que tem que ser feita após a sessão: "Com qual personagem do filme você mais se identificou?". O jovem pode responder: "Ah, eu me identifiquei com o Roger". No filme, o Roger praticou suicídio. Aí, o líder, o pastor que estiver trabalhando nesse projeto no momento, deve estar atento, porque esse rapaz pode estar no mesmo caminho. Este é um desafio para a igreja, que deve tratar os pontos de conflito individualmente, passo a passo, com acompanhamento estreito. No kit que acompanha o filme, vem um material de apoio para a igreja usar e ajudar o jovem a ter um estreitamento da proximidade espiritual com Deus e devocionais que o ajudam a refletir em Deus e a sair dos problemas, com apoio na leitura da Palavra.
A maioria dos filmes voltados para adolescentes contém ação, comédia ou terror, ou são sexualmente instigantes. Como está sendo a reação dos adolescentes, já que o filme é um drama que aborda temas que propõem gerar uma reflexão social?
A reflexão entre eles é surpreendente, porque as questões tocam muito no seu aspecto emocional. Eu ouvi um testemunho de uma senhora no Recife que passou o filme quatro vezes para quatro adolescentes que estavam precisando de ajuda e ela disse que cada um reagiu de uma maneira. Outro exemplo que tenho é de um jovem homossexual que viu o filme e foi despertado a fazer mudanças em seu caráter, apesar de o filme não tratar diretamente sobre esse assunto. Depois de sair da sessão, os jovens pensam: "Eu preciso mudar meu estilo de vida e não posso continuar assim". A repercussão foi além do que nós imaginávamos. Pensamos que haveria algum jovem se convertendo, sim, mas a gente nunca consegue mensurar o impacto do projeto nas pessoas. Eu não conheço um jovem que tenha visto o filme e não tenha sido confrontado com seus dilemas e sentido uma necessidade de mudança.
Tratando de temas bem atuais em debate no Brasil, como bullying e gravidez na adolescência, existe uma identificação imediata do público aqui?
O que acontece aqui é que a cultura brasileira não é muito forte na questão da comunicação entre pais e filhos. Existe vergonha dos filhos em se abrirem com os pais e dos pais com os filhos, e, na igreja, com o pastor. Então, o filme vem propor que as pessoas modifiquem isso, que sejam mais abertas e francas, e fazer com que o jovem desperte nessa área é uma das funções do filme. Quando estávamos analisando o projeto com nossa equipe, procuramos pesquisar e percebemos que o problema do bullying perdura ainda, fato para o qual várias mídias têm dado destaque. Nesse, como em vários outros pontos, percebemos que haveria identificação com a realidade daqui.
E como é fazer missões utilizando o recurso do cinema?
Excelente. As respostas são ótimas. Todos nós sabemos que há várias formas de evangelizar, mas a evangelização por meio de filmes traz uma resposta totalmente diferente, pois a pessoa se transporta para a história e se identifica com os personagens. Eu recebo muitos e-mails de jovens e quase todos começam assim: "Assistindo ao filme...". Então, toca na vida e na ferida deles. Em "Para Salvar uma Vida", temas como bullyng, drogas, divórcio de pai e mãe, aborto e sexo na juventude são tratados diretamente. Por isso, o filme tem esse poder de fazer rir, chorar, enfim, tem toda uma reação emocional que torna especial a hora de fazer o apelo e traz um resultado que é fantástico.
Na sua opinião, a igreja brasileira está preparada para lidar com adolescentes e seu conflitos ?
Não está e eu fiquei espantado com isso! A nossa idéia era projetar o filme em cada capital brasileira, mas paramos na segunda projeção exatamente porque esbarramos nesta barreira de muitas igrejas ainda não estarem preparadas para lidar com os dilemas dos jovens. E nós ouvimos fatos e depoimentos assustadores de jovens membros de igrejas após a projeção, que passa por muitas dificuldades e ninguém sabe disso em suas igjreas. Isso me dói muito no coração, porque não se vê a igreja pronta para isso. Como eu disse, há uma mesmice nas ações voltadas para eles. É o culto jovem em que eles cantam, batem palmas e ouvem uma pregação. Olhando do púlpito, eles estão lá, de bate-papo, mas não há um envolvimento real. Falta alguém preparado para ouvir, tratar e auxiliar o jovem, tornando a igreja saudável nessa área. Infelizmente, não tenho encontrado isso. Por exemplo, certo pastor teve o número de jovens dobrado em sua igreja, em função da exibição do filme, e ficou muito preocupado com isso, porque não sabia como lidar com as questões deles. Ele me ligou, dizendo: "Cláudio, eu preciso de uma ajuda. Estou perdido!". Aí, nós o orientamos a utilizar o material de auxílio do projeto, que traz idéias de programações e atividades para inserir nas igrejas. Então, essa pergunta é muito pertinente, porque de fato não estamos percebendo um preparo adequado da igreja.
Qual a mensagem que você quer deixar para os líderes de jovens e pastores?
Eu digo a eles que os jovens e os adolescentes estão sedentos por atenção. Eu tenho dois filhos que já passaram da adolescência e, mesmo assim, o filme me ajudou muito a estar mais próximo e conversar mais com eles. E, ao dialogar, eu vejo quanto tempo eu perdi em não ter conversado antes. É uma situação que o filme desperta na gente. O filme traz a perspectiva de que os filhos precisam ser ouvidos, literalmente. Caso contrário, vão dar ouvidos à TV, à internet, à drogas e a tantas outras coisas. É necessário ter mais comunicação. É preciso o pastor chegar mais próximo e bater um papo, nem digo fazer um gabinete, mas parar para ouvir é fundamental. O filme também traz a possibilidade de se reunir em grupos e se abrir.
E qual o conselho que você daria aos adolescentes e jovens que passam por esses problemas?
O primeiro recado é não fazer loucura, e sim colocar o pé no freio diante de uma situação problemática. Quando eu leio os e-mails deles, a primeira coisa que eu respondo é para eles esperarem mais um pouquinho. O recado que sempre dou é que não cometam nenhuma loucura sem antes conhecer um pouco mais da Palavra de Deus e as perspectivas de ajuda que eles podem ter com o auxílio da igreja.
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